quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Orfandades( O destino das ausências)

No vazio da sala senti a enormidade de sua ausência.Era a primeira vez que sem ele eu ficava.
Vê-lo partir me fazia pensar em quanto éramos plurais. Vivíamos um para o outro. A morte prematura do pai estreitou ainda mais nossa pertença.
Assim que o portão se fechou, uma solidão silente tomou conta da casa. Foi então que percebi que nós exercíamos distintas funções naquele espaço. Da casa, eu era os olhos. Ele, a voz. A trilha sonora de nossa vida era composta por ele. Sempre fora assim. Expansivo, falante,descansava-me da necessidade da festa que o gesto promove. Eu me ocupava dos olhares que o amor exige. Minha natureza melancólica, mas não triste, colocava-me no posto de sentinela.(...)
O vazio da sala revelou-me tudo isso, como se uma lente amplificasse a minudência dos dias e a pequenez do vivido alcançasse uma grandeza que só a temporária desmaterialização do vínculo poderia oferecer. A viagem de Leonardo era essa pausa. Vê-lo partir sozinho fez-me tocar a insuficiência de minha condição materna. Era o corte do cordão. Aquela curta distância percorrida entre a sala da despedida e o carro que o esperava era reveladora. Era o corte do cordão.

                                                                                Pe. Fábio de Melo