sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

POEMA DE NATAL

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos-
Por isso temos braços longos para os adeuses
 Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nosa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos-
Por isso precisamos velar
Falar baixo,pisar leve,ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso,talvez, de amor
Uma prece por quem se vai-
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte-
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

(Vinicius de Moraes)

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